Tormenta

Entrevista: ‘A Deusa no Labirinto’, romance de Karen Soarele em Tormenta, é finalista de prêmio

“A Deusa no Labirinto” foi indicado ao Prêmio AGES 2020 de melhor livro do ano na categoria narrativa longa. Karen Soarele concedeu entrevista exclusiva ao Mesa de RPG .

Karen Soarele e o livro A Deusa no Labirinto
Karen Soarele é autora de “A Deusa no Labirinto”, romance finalista do Prêmio AGES 2020 de Livro do Ano. – Foto: Karen Soarele/Acervo pessoal

O romance do cenário de Tormenta “A Deusa no Labirinto”, da escritora Karen Soarele, foi indicado ao troféu de livro do ano no Prêmio Associação Gaúcha de Escritores (AGES) 2020, sendo o único do gênero fantasia finalista na categoria narrativa longa desde que o prêmio foi criado, em 2003. A autora concedeu uma entrevista exclusiva ao Mesa de RPG e falou sobre a indicação, sobre o processo criativo e também sobre como foi ser responsável por uma das maiores mudanças na história de Arton nos últimos anos.

“Ser finalista em um prêmio que não é voltado para a literatura fantástica mostra a força da fantasia no país, mas não só isso, mostra também a evolução das pessoas. Existe a questão de que algumas pessoas, em alguns lugares, acreditam que são superiores porque leem determinados livros e que os outros são inferiores porque leem fantasia, e a gente sabe que não é bem assim”, diz Karen. 

“A fantasia tem o lado fantástico, da aventura, mas acima de tudo é um livro voltado para entreter o leitor, então é uma obra que, acima de tudo, tem que contar história sobre pessoas, para que os leitores se identifiquem. É bacana ver que a fantasia está encontrando seu espaço na literatura antes tida como “literatura séria”, e ver que cada vez mais as pessoas, a academia, os jurados de prêmios, têm percebido o poder da literatura fantástica”.

Karen Soarele – Autora de “A Deusa no Labirinto”

Para a edição de 2020 do Prêmio AGES Livro do Ano, foram inscritas 157 obras, de várias categorias, lançadas em 2019. Na categoria que o romance de Karen concorre, também são finalistas os livros “Doze Lições”, de Daniela Kern; “Mônica Vai Jantar”, de Davi Boaventura; “No Mais Profundo do Seu Ser”, de Clóvis Malta; “O Coveiro de Buenos Aires”, de Mauro Maciel; e “O Espião que Aprendeu a Ler”, de Rafael Guimaraens.

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O prêmio AGES de Livro do Ano tem como objetivo dar destaque e visibilidade à produção intelectual e literária de escritores gaúchos ou que morem no Rio Grande do Sul. Além do troféu, a pessoa autora do livro vencedor recebe também o valor de R$ 1.500. Este ano, a revelação dos vencedores vai acontecer de forma online, por causa da pandemia de Covid-19, mas ainda não há data definida.

Esta é a primeira vez que Karen concorre a este prêmio, mas a autora já acumula um troféu Cecília Meireles, de reconhecimento pelo trabalho que ela fazia dando palestras e ensinando literatura em escolas, e também foi finalista do Prêmio Le Blanc de Arte Sequencial, Animação e Literatura Fantástica esse ano, com “A Deusa no Labirinto” e com a antologia de contos relâmpagos de ficção “Curtos & Fantásticos”, que ela organizou junto a Vinícius Mendes e Wesnen Tellurian. 

A Deusa no Labirinto
A Deusa no Labirinto -Foto: Jambô Editora/Divulgação

“A Deusa no Labirinto”

A história de “A Deusa no Labirinto” se passa pouco tempo antes dos acontecimentos narrados na linha do tempo de Arton no livro básico de Tormenta20, lançado recentemente pela Jambô Editora após bater recorde de financiamento coletivo no país. 

No livro, a autora aborda a mais controversa das sociedades de Arton: o Império de Tauron, uma civilização de minotauros que alcançou a glória, mas a um custo terrível. A narrativa começa quando uma elfa decide agir contra este regime e desencadeia eventos que vão mudar para sempre a história do Império, do Reinado, e do próprio Panteão de Arton. Saiba mais sobre os bastidores no final desta reportagem.

Livros escritos por Karen Soarele
Livros escritos por Karen Soarele. – Foto: Karen Soarele/Acervo pessoal

Karen Soarele tem seis livros publicados, sendo criadora da série “Crônicas de Myríade”, com os livros “Línguas de Fogo”, “Tempestade de Areia” e os spin-offs “A Rainha da Primavera”, “A Canção das Estrelas”.  Ela também organizou e têm contos publicados nas antologias “Curtos & Fantásticos”, volumes 1 e 2, o segundo atualmente em fase de impressão. Em Tormenta, além de ter escrito dois romances oficiais do cenário, Karen publicou contos na antologia “Crônicas da Tormenta Vol. 2” e na Revista Dragão Brasil.

Atualmente a autora trabalha no terceiro volume da série ‘Myríade’, que ficou em pausa por causa dos romances de Tormenta. “Eu sempre fui louca para terminar de contar essa história e tem muita coisa que eu quero contar ainda em Myríade. Estou trabalhando nesse volume 3 e ele vai costurar muita coisa que ficou em aberta. Na verdade ele vai unir as peças dos dois volumes e dos spin offs ao mesmo tempo”.

Dança das cadeiras divinas em Arton: os bastidores

Panteão de Arton
O Panteão de Arton antes das mudanças apresentadas em Tormenta20 – Foto: TormentaRPG/Reprodução

!!!Atenção, a partir daqui você encontra SPOILERS do romance e também do livro básico de Tormenta20. Leia por sua conta e risco!!!

Diferente de “A Joia da Alma”, primeiro romance de Tormenta escrito por Karen Soarele, “A Deusa no Labirinto” trouxe grandes e profundas mudanças no cenário de Arton, na composição do Reinado e até no panteão artoniano. 

Quem já leu a obra, ou o livro básico de Tormenta20, já sabe que o deus da Força e dos minotauros, Tauron, caiu do panteão de deuses maiores e o deus da Tormenta, Aharadak, ascendeu. Karen falou sobre como foi esse processo. 

“Quando eu escrevi ‘A Joia da Alma’ eu ainda não estava muito bem inserida na equipe responsável por Tormenta, eu estava chegando ainda. Na verdade, foi tudo bem surpreendente. Eu lancei meus quatro primeiros livros de forma independente e aí juntei tudo, fiz uma carta de apresentação e mandei para a Jambô. De repente, eles me responderam e foi uma grande surpresa, porque quem é escritor sabe que não é todo mundo que tem esse feedback das editoras, e eles me responderam já convidando para escrever um livro para o cenário”, diz. 

Deuses de Arton
Em Arton, a disputa por uma vaga no panteão de deuses maiores é acirrada – Foto: Jambô Editora/Divulgação

Nessa época, Karen estava fora do Brasil, morando no Canadá, e todo o processo foi feito à distância. “Como eu tava dando meu primeiro passo dentro do cenário, eu tentei explorar outras coisas. Busquei temas profundos neste livro em relação aos personagens. Claro, tem entidades que são poderosas no cenário e que aparecem, mas não me arrisquei em mexer em plots que já estavam em andamento porque são várias pessoas que escrevem para Tormenta e a chance de dar conflito com algo que alguém já estava fazendo, era muito grande”, relata. 

Não demorou muito para a autora terminar o primeiro livro e já engatar no segundo. “Na tour de lançamento de “A Joia”, o Guilherme Dei Svaldi, editor-chefe da editora, chegou para mim e disse: ‘E aí, vamos escrever mais um? Já tem ideia para um segundo livro?’ e eu respondi: ‘Olha, no final da Joia, as personagens que sobrevivem podem ir para qualquer lugar do mundo, exceto uma, que é a Gwen. Ela descobriu que alguns alunos foram transformados em escravos e não há outro lugar em Arton que ela não vai imediatamente a não ser o Império de Tauron, para libertar seus amigos’. Foi então que Guilherme respondeu: ‘excelente, perfeito, porque é justamente para lá que eu preciso que você vá’”, conta. 

“E então me foi incumbida a missão de derrubar Tauron do panteão, e eu descobri que Aharadak quem ia entrar no lugar dele. Comemorei duplamente – já estava na hora!”

Karen Soarele relata que conheceu Tormenta há cerca de 15 anos e que ao começar a jogar no cenário, estranho que o nome do jogo era Tormenta, mas o deus da Tormenta não estava no panteão maior. 

“Claro que depois, lendo os romances de Leonel, a gente entende essa construção, mas desde o começo eu ficava achando esquisito que ele não fosse um deus maior. O fato é que achei sensacional que caiu na minha mão a responsabilidade de fazer isso, adorei fazer, fiz com maior gosto, e agora os outros 19 deuses vão ter que engolir Aharadak no panteão”.

Karen explica, ainda, sobre a importância de um livro funcionar, por si só, como uma obra literária. Afinal de contas, apesar de ser uma história dentro do cenário de Tormenta, que expande o universo para as mesas de RPG, antes disso “A Deusa no Labirinto” é um romance independente, que deve ser compreendido por todos que quiserem ler, mesmo que não conheça o cenário ou que nunca tenha jogado RPG.

“Derrubar um deus e colocar outro no lugar, para quem só está buscando o conhecimento do universo de Tormenta, para jogar RPG, é a parte que interessa. Mas o romance não é só isso. No livro, a gente conhece mais sobre como a sociedade percebe essas mudanças, como isso aconteceu. Para mim foi muito gratificante poder criar e mostrar como funciona a sociedade táurica, por exemplo”.

Antes das mudanças trazidas por “A Deusa no Labirinto” e, consequentemente, por Tormenta20, o Império de Tauron era reino dominado por minotauros que eram focados no ideal religioso da dominância do mais forte. A capital, Tapista, o mais vasto reino da superfície de Arton e maior nação-não humana do mundo, tinha uma política baseada na escravidão e mantinha o foco neste domínio pela força. 

“Apesar dessa divisão [minotauros como senhores dos escravos, que são todas as outras raças], eu não quis fazer tudo preto no branco. No mundo não é assim, as coisas têm tonalidades. Pessoas boas fazem coisas ruins, às vezes, e pessoas ruins também fazem coisas boas. Não é porque alguém nasceu em uma família de minotauros que ele tenha que ser escravagista, o nascimento não define a vida de alguém. Por isso que no livro você encontra minotauros que são contra a escravidão e, do outro lado, escravos que são habituados ou que têm algum prestígio na sociedade em relação aos outros escravos e que não querem a mudança do regime. Para mim foi muito gratificante poder falar sobre este tema, impactante na nossa sociedade, refletido em um mundo de fantasia”, completa.

“A Deusa no Labirinto” é vendido no site da Jambô Editora aos preços de R$ 29,90 (edição digital), R$ 59,90 (edição física), e R$ 75 (combo físico e digital). Além de “A Deusa no Labirinto”, a linha de romances de Tormenta conta com “A Joia da Alma”, também de Karen Soarele; e “O Inimigo do Mundo”, “O Crânio e o Corvo”, “O Terceiro Deus” e “A Flecha de Fogo”, de Leonel Caldela.

Diogo Almeida

Jornalista, músico e jogador de RPG. Não necessariamente nesta ordem.

2 thoughts on “Entrevista: ‘A Deusa no Labirinto’, romance de Karen Soarele em Tormenta, é finalista de prêmio

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