Craftando Games: sócio nega ‘sumiço’ e diz que está afastado por problemas de saúde

O sócio-administrador da editora de RPG de mesa Craftando Games, Pablo Powrosnek, divulgou uma carta pública onde negou ter “sumido” das redes sociais e paralisado as atividades da empresa. O Mesa de RPG recebeu o material na noite da segunda-feira (30), após conseguir contato com o sócio. Leia a carta pública, na íntegra, no final desta matéria.

Na sexta-feira (27), autores e colaboradores da editora haviam denunciado, nas redes sociais, a falta de transparência por parte de Pablo, apontado como dono da editora, que teria se afastado das operações na Craftando Games porém mantendo o controle exclusivo sobre setores-chave, como as contas bancárias, o que impediu a continuidade da publicação dos jogos.

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“Primeiramente, gostaria de esclarecer que nunca desapareci. Estou afastado devido a problemas de saúde, e quem teve contato pessoal comigo pode confirmar isso”, afirmou Pablo na carta. Ele destacou que, apesar de ser visto como o principal responsável pela empresa, nunca atuou como o único proprietário da Craftando Games. “Não sou o ‘dono’ ou proprietário único da editora; apenas assumi o papel de sócio administrador durante um momento”, explicou.

Pablo também detalhou as mudanças na estrutura administrativa da editora. Ele relatou que a Craftando Games passou por várias gestões e só em janeiro de 2023 se transformou em sociedade limitada (LTDA), com quatro sócios. “Meu papel era voltado para marketing e comunicação; nunca atuei como administrador, editor ou financeiro anteriormente”, disse.

Ele reconheceu os desafios enfrentados na gestão da editora e os problemas de produção, como textos inacabados e atrasos em revisões, mas defendeu sua postura de proteger a equipe. “Sempre procurei me posicionar em defesa da equipe para não agravar as dificuldades. Reconheço que cometi erros e falhei em algumas áreas, mas não quero discutir isso em público.”

Sobre as acusações de que teria paralisado as operações da editora e deixado projetos como Kalymba RPG e Cangaço Trevoso sem encaminhamento, Powrosnek evitou entrar em detalhes, mas reafirmou que “a situação não é como muitos pensam”. Ele também afirmou que pretende se afastar de vez da Craftando Games e está “se preparando para recomeçar” em outro lugar. “Estou me preparando para recomeçar, pois não vejo mais possibilidade de continuar aqui.”

Autores e colaboradores relatam problemas com livros a ser publicados

Na sexta-feira, a equipe da editora relatou que Powrosnek simplesmente desapareceu dos grupos do WhatsApp”, e, apesar de ainda se comunicar de forma esporádica, não delegou o acesso necessário para que a editora pudesse funcionar sem sua presença. “Por conta disso, a editora simplesmente parou de funcionar”.

A situação é ainda mais grave porque Powrosnek não cumpriu com promessas feitas tanto à equipe quanto aos apoiadores da editora. Livros como Cangaço Trevoso, que supostamente já estariam na gráfica, nunca foram encomendados. “Ele não providenciou a produção de absolutamente nada!”, denunciam os colaboradores. Outros títulos, como Nessus, permanecem inacabados, sem revisão ou diagramação.

Carol Bernadino, colaboradora da editora, assumiu a tentativa de controlar os danos, descobrindo as falhas na produção e buscando soluções. Ela, junto com os autores, decidiu arcar com os custos da impressão de Cangaço Trevoso, que já foi paga e deve ser entregue em 20 dias úteis. A equipe também confirmou que está tomando medidas legais para exigir uma prestação de contas de Pablo Powrosnek, que até o momento se recusou a compartilhar informações financeiras.

Alê Santos, autor de O Último Ancestral RPG, também usou as redes sociais, neste sábado, para informar que não vai mais trabalhar com a Craftando Jogos.

Em um post no Blue Sky, o autor disse que devido a polêmica em torno da administração da editora, cancelou a parceria que estava produzindo o RPG inspirado no romance escrito por ele.

“Quero agradecer toda equipe de game design, ilustradores e escritores que estavam trabalhando, aparentemente todos foram vítimas de escolhas ruins, que me fazem crer ser também motivos do projeto ter demorado demais pra andar”, postou Alê.

Leia a íntegra da carta pública divulgada por Pablo Powrosnek:

Carta Pública
Primeiramente, gostaria de esclarecer que nunca desapareci. Estou afastado devido a problemas de saúde, e quem teve contato pessoal comigo pode confirmar isso. Não sou o “dono” ou proprietário único da editora; apenas assumi o papel de sócio administrador durante um momento, e tenho registro de conversas em que admiti minha inaptidão para essa função ao assumir, concordando em me afastar por essa razão a algum tempo.
A empresa passou por diferentes gestões: inicialmente foi administrada por um CPF, depois por uma MEI até dezembro de 2022, e, em janeiro de 2023, foi constituído um CNPJ LTDA, já com quatro sócios, incluindo o atual. Meu papel era voltado para marketing e comunicação; nunca atuei como administrador, editor ou financeiro anteriormente e dos projetos anteriores.
Sou jardineiro e tenho apenas o segundo grau completo. Quando enfrentamos problemas, reduzimos o número de sócios de quatro para dois em 2023. Na busca por novos integrantes, dois novos sócios se juntaram a nós em Dezembro de 2023. Eu me tornei editor do projeto Kalymba por já conhecer bem a iniciativa e busquei aprender o máximo possível sobre a função, mantendo meu foco no marketing. Entretanto, precisei assumir a posição de sócio administrador no final de 2023, pois os demais sócios são funcionários concursados.
Enfrentamos desafios significativos, como textos não escritos, capítulos faltando, atrasos em revisões e dificuldades pessoais, como acidentes e problemas de saúde. Sempre procurei me posicionar em defesa da equipe para não agravar as dificuldades. Reconheço que cometi erros e falhei em algumas áreas, mas não quero discutir isso em público; prefiro abordar essas questões diretamente, caso a caso.
Devo mencionar que recebi apoio financeiro várias vezes, assim como autores, parceiros e apoiadores que ajudamos durante a pandemia. Nos últimos tempos, passei por dificuldades financeiras severas, e um dos sócios fez um empréstimo no final de 2023 para manter a operação. Embora tenha conseguido me sustentar até abril, acabei contraindo dívidas. Um autor gentilmente me ajudou com uma coleção de DVDs para cobrir despesas, por exemplo, e outro sócio me ajudou a pagar contas de energia a pouco. Recentemente, pedi ajuda a dois sócios 46 reais para comprar um remédio essencial pelo momento de tensão, e sou grato a quem me ajudou naquele momento e na mesma hora avisei ao outro que tinha já recebido ajuda. Isso é para demonstrar que não estou bem a tempo, nem agora e nem estou com dinheiro de outros. E também não tenho mais controle algum financeiro, tão pouco quero me fazer de coitado ou de doente!
Estou me preparando para recomeçar, pois não vejo mais possibilidade de continuar aqui. Em relação às acusações, me defenderei adequadamente.
Agradeço a todos que conhecem meu trabalho e me apoiaram. Sempre procurei tratar todos com respeito e educação, e não cortei os acessos dos apoiadores à editora e nem farei o inverso, manterei o máximo que conseguir (na maioria dos grupos não me tiraram pelo fato que fui o criador do mesmo, mas tentaram me tirar o máximo de acessos bem antes, incluindo até me deu e-mail pessoal). Embora esteja saindo, deixarei as portas abertas para que continuem se comunicando entre vocês.
Desculpem se a redação ficou confusa; estou escrevendo em um momento de tristeza. Não entrarei em detalhes sobre tudo que foi dito, mas deixo claro que a situação não é como muitos pensam. Pretendo me retirar dos grupos, e espero que isso não cause problemas.
Agradeço a todos que me deram a chance de dialogar. Ao contrário do que foi sugerido, sempre procurei ser cordial. Apenas me afastei de quem não me respeitou e por causa das ameaças e ofensas direcionadas a mim e à minha família que já ocorreram, portanto me fechei a quem acredito que possa manter diálogo.
Atenciosamente,
Pablo.